Estou convencido começando por mim
próprio que todos nós sofremos de dislexia. No entanto, todos nós por uma
questão de princípios, conseguimos corrigir as nossas faltas sempre e quando
nos proponhamos a lutar contra esta perturbação incómoda não aconteça. Mas, nem
sempre esta luta constante consegue resolver todo o tipo de confusões que
reinam no nosso subconsciente.
Segundo Sigmund Freud: aquilo que por
vezes parece patológico, não o é, pela razão de nos afastar daquilo que não
gostamos. Isto é, quando não se gosta à primeira vista de qualquer coisa o
subconsciente tem tendência a recuar e ao mesmo tempo fazer esquecer o que não
obedeça às leis impostas pelo subconsciente…
Hoje compreendo perfeitamente os motivos
pelo qual nunca entrei num colégio eleitoral. Ao vê-los, mesmo que seja através
de televisão, sinto uma espécie de náusea pelas imagens sangrentas que vi
quando era miúdo. Na escola do povo transformada nesse dia em um colégio
eleitoral a Guarda Nacional Republicana de cacete na mão descarregavam a sua
fúria contra o pobre povo que ali se encontrava para votar.
Nunca consegui compreender esta cena de
violência de ver as forças de ordem público que deviam de estar ali para
proteger o povo e em vez disso, partiam cabeças indiscriminadamente. Era arrepiante
ver este espetáculo sangrento feito por quem tem a obrigação de nos defender!
Meu pai agarrando-me pela mão, gritou aos guardas para abrirem caminho dizendo
bem alto que tais espetáculos de violência não podem ser vistos por crianças.
Não teria todavia sete anos, mas ainda hoje, esta atitude do meu pai, não deixa
de me surpreender a valentia que teve de gritar como gritou a esses rostros
duros sem alma.
Este episódio, um dos melhores recordos
do meu pai, consegui esquecer toda a violência que existiu no mesmo, como
também enalteceu o meu subconsciente a boa ação dessa pobre gente que tiveram a
capacidade de anularem a votação do povo, e não votarem em quem queriam que
votassem. São estas grandes coisas que fazem crescer a alma do homem e só
através das mesmas a que conseguimos descobrir quem somos e ao mesmo tempo
sermos dignos de nós próprios e não uns pobres Títeres e Lambeculos ao serviço
de uns monstros esquizofrénicos que se julgam Deuses do mundo.
Continuando nesta linha Freudiana me
pergunto uma e outra vez qual o motivo destas relembranças esquecidas toda uma
vida? As imagens nem todas são nítidas para esclarecer a existência das mesmas,
no entanto, como uma coisa leva a outra, me dou conta que a primeira imagem
significa a morte do Presidente Marechal Óscar Carmona e o que não consigo
decifrar é a causa da violência no dia das eleições se tratava de Norton de
Matos ou Craveiro Lopes, coisa que fica no segredo dos Deuses porque nem uma
coisa nem outra corresponde à minha própria realidade.
O importante desta vida não é aquela que
se vive, mas sim aquela que fica escondida nas trevas como se não existisse. O
medo, a manipulação, a falta de coragem de enfrentamento com o demónio são as
principais causas do mal e a origem de todas as patologias como dislexia,
neuroses, libido, perversão sexual, lapsos e todo um conjunto de enfermidades
sintomáticas que nos levam a comportamentos anormais consequente à causa
provocadora.
Assim, sem sabermos estamos debaixo de
uma pressão incontrolável como o caso da dislexia em que nos leva a cometer um
conjunto de erros ou faltas que a maior parte das veze não temos capacidade de
as corrigir. Uns dias atrás escrevi um artigo sobre as eleições no Brasil e por
mais que tentasse escrever o nome correto do candidato Bolsonaro escrevi de
tudo manos o nome dessa figura terrorífica que não pode estar presente no meu
vocabulário, sem me fazer recordar aquelas imagens sangrentas que vi quando
criança e, que ainda hoje me
atormentam.